quinta-feira, novembro 24, 2005

Vejo nos olhos *Guido Cavalcanti*

Nos olhos de minha dama vejo eu
uma luz cheia de espíritos do amor,
que traz um prazer novo no coração,
de forma que uma vida jovial desperta lá.

Algo me acontece quando estou na presença dela,
que não posso descrever ao intelecto:
me parece que dos lábios dela emite coisa de si tão
bonita, que a mente
compreender não pode, porque imediatamente outra
brota de beleza impar,
da qual parece que uma estrela surge
e diga: "Sua salvação surgiu".

Lá de onde esta bela dama surge,
uma voz que a precede é ouvida;
e parece, movida pela singeleza dela que canta tão
docemente para o seu nome, que se tento descrever isso,
eu sinto o valor dela me fazer tremer,
e surgem suspiros na alma movendo-se
que dizem:"Veja, se você a contempla,
você verá sua virtude ascender ao céu".

*Guido Cavalcanti*
[1259 - 1300]

Veggio negli occhi
[original: Italiano - Toscano]

Veggio negli occhi de la donna mia
un lume pien di spirit d'amore
che porta uno piacer novo nel core,
si che vi desta d'allegrezza vita.

Chosa m'aven quand'i le son presente,
ch'i no la posso a lo 'nteletto dire:
veder mi par de la sua labbia uscire
una sì bella donna, che la mente
compreender no la può, chè
'nmantenente
ne nasce un'altra di bellezza nove,
de la qual par ch'una stella si mova
e dica: la salute tua è apparita.

Là dove questa bella donna appare,
s'ode una voce che le vèn davanti;
e par che d'umilità il su' nome canti
sì dolcemente, che s'i' 'l vo' contare,
sento che 'l su' valor mi fa tremare;
e movonsi nell'anima sospiri
che dicon: "Guarda, su tu costei miri,
vedrà 'l sua vertù nel ciel salita."

*Guido Cavalcanti"
[1259 - 1300]

quarta-feira, novembro 16, 2005

Versos Sencillos *José Martí*

Yo soy un hombre sincero
De donde crece la palma,
Y antes de morirme quiero
Echar mis versos del alma.

Mi verso es de un verde claro,
Y de un carmín encendido,
Mi verso es un ciervo herido,
Que busca del monte amparo.

Con los pobres de la tierra,
Quiero yo mi suerte echar,
El arroyo de la sierra,
Me complace más que el mar.

Yo vengo de todas partes,
Y hacia todas partes voy:
Arte soy entre las artes,
En los montes, monte soy.

Yo se los nombres extranos
De las yerbas y las flores,
Y de mortales enganos,
Y de sublimes dolores.

Yo he visto en la noche oscura
Llover sobre mi cabeza
Los razos de lumbre pura
De la divina belleza.

Alas nacer vi en los hombres
De las mujeres hermosas:
Y salir de los escombros,
Volando las mariposas.

He visto vivir a un hombre
Con el punal al costado,
Sin decir jamas el nombre
De aquella que lo ha matado.

Rapida, como un reflejo,
Dos veces vi el alma, dos:
Cuando murio el pobre viejo,
Cuando ella me dijo adios.

*José Julián Martí*
[1853 - 1895]

terça-feira, novembro 08, 2005

Monólogo de Hamlet *William Shakespeare*

(Hamlet, Ato II, Cena 1)

Ser, ou não ser - eis a questão.
O que é mais nobre para a mente sofrer
Os dardos e setas de destino cruel
Ou pegar em armas contra um mar de desgraças
E pela resistência pôr-lhes fim? Morrer, dormir;
Nada mais? E com o sono, dizem, terminamos
O pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos
Da carne herdados. Eis um epílogo
Devotamente desejado. Morrer, dormir.
Dormir - sonhar talvez. Eis a dificuldade.
Nesse sono da morte, que sonhos virão
Quando nos libertarmos do invólucro mortal
Devemos nos deter. Aí está a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria os insultos e desdéns do tempo,
A injúria do opressor, a afronta do soberbo,
As angústias do amor desprezado, a morosidade da lei,
As insolências do poder, e as humilhações
Que o mérito paciente tem do indigno,
Quando ele próprio pudesse encontrar repouso
Com uma lâmina nua?
Quem suportaria tão duras cargas,
Gemendo e suando sob uma vida penosa,
Se não fosse o temor de algo após a morte -
Região misteriosa, fronteira de onde
Nenhum viajante retornou - confundindo a vontade,
E impelindo-nos a suportar os males que nos afligem
Em vez de nos lançarmos a outras que não sabemos?
Assim nossa consciência nos faz covardes em tudo.
E assim a cor nativa de nossas resoluções
Se debilita na pálida sombra do pensamento,
E as empreitadas de maior alento e importância
Com semelhantes reflexões desviam seu curso
E perdem o nome de ação.
*William Shakespeare*
[1564 - 1616]

Hamlet's Monologue
(Hamlet, Act II, Sc 1)

To be, or not to be - that is the question.
Wheter 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune
Or to take arms against a sea of troubles
And by oppossing end them? To die, to sleep;
No more? And by a sleep, to say we end
The heart-ache and the thousand natural shocks
That flesh is heir to. 'Tis a consumation
Devoutly to be wished. To die, to sleep.
To sleep - perchance to dream. Ay, there's the rub.
For in that sleep of death, what dreams may come
When we have shuffled off this mortal coil
Must give us pause. There's the respect
That makes calamity of so long life.
For who would bear the whips and scorns of time,
Th' opressor's wrong, the proud man's contumely,
The pangs of despised love, the law's delay,
The insolen of office, and the spurns
That patient merit of th'unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin?
Who would these fardels bear,
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death -
The undiscovered country, form whose bourn
No traveller returns - puzzles the will,
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all.
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o'er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pitch and moment
With this regard their currents turn awry
And lose the name of action.


*William Shakespeare*
[1564 - 1616]

quinta-feira, novembro 03, 2005

À Bárbara Eleodora *I.J. de Alvarenga Peixoto*

Bárbara bela,
Do Norte estrela,
Que o meu destino
Sabes guiar,
De ti ausente
Triste somente
As horas passo
A suspirar.
Isto é castigo
Que Amor me dá.

Por entre as penhas
De incultas brenhas
Cansa-me a vista
De te buscar;
Porém não vejo
Mais que o desejo,
Sem esperança
De te encontrar.
Isto é castigo
Que Amor me dá.

Eu bem queria
A noite e o dia
Sempre contigo
Poder passar;
Mas orgulhosa
Sorte invejosa,
Desta fortuna
Me quer privar.
Isto é castigo
Que Amor me dá.

Tu, entre os braços
Ternos abraços
Da filha amada
Podes gozar;
Priva-me a estrela
De ti e dela,
Busca dos modos
De me matar!
Isto é castigo
Que amor me dá.


*Inácio José de Alvarenga Peixoto*
[1744 - 1793]

terça-feira, novembro 01, 2005

¡habrá poesía! *Gustavo Adolfo Bécquer*

No digáis que agotado su tesoro,
de asuntos falta, enmudeció la lira.
Podrá no haber poetas, pero siempre
¡habrá poesía!

Mientras las ondas de la luz al beso
palpiten encendidas;
mientras el sol las desgarradas nubes
de fuego y oro vista;

mientras el aire en su regazo lleve
perfumes y armonías;
mientras haya en el mundo primavera,
¡habrá poesía!

Mientras la ciencia a descubrir no alcance
las fuentes de la vida,
y en el mar o en el cielo haya un abismo
que al cálculo resista:

mientras la Humanidad siempre avanzando,
no sepa a dó camina;
mientras haya un misterio para el hombre,
¡habrá poesía!

Mientras sintamos que se alegra el alma,
sin que los labios rían;
mientras se llore sin que el llanto acuda
a nublar la pupila;

mientras el corazón y la cabeza
batallando prosigan;
mientras haya esperanzas y recuerdos,
¡habrá poesía!

Mientras haya unos ojos que reflejen
los ojos que los miran;
mientras responda el labio suspirando
al labio que suspira;

mientras sentirse puedan en un beso
dos almas confundidas;
mientras exista una mujer hermosa,
¡habrá poesía!


*Gustavo Adolfo Bécquer*
[1836 - 1870]